Uma grande mentira tem maiores chances de ser acatada do que uma pequena modificação da verdade. Teoria comprovada por aquele velho ditador de bigodinho cafona. No entanto, para isso, exigem-se criatividade, dissimulação e memória por parte do interlocutor. Assim, as pessoas não mentem sempre por não serem inteligentes o bastante para distorcer a verdade como um todo, metamorfoseando-a numa nova realidade sonhada.

Tal introdução tem um propósito pré-definido. Estou disposto a encerrar certos comentários especulativos e tendenciosos sobre o feriado de Frei Galvão. Nesse dia, os estudantes da Cásper Líbero não tiveram aula, sendo que a faculdade acena com a possibilidade de manter a mesma decisão nos anos posteriores. O mesmo ocorre com muitas outras universidades de São Paulo, tais como USP, PUC, GV e Mackenzie.

Discorrerei apenas sobre o motivo pelo qual a faculdade Casper Líbero está propensa a oficializar a data como feriado para seus alunos e funcionários. Muitos murmúrios se espalharam por suas dependências devido a esse fato, um mais mirabolante que o outro. Todos estão dispostos a seguir à risca a teoria já citada. Alguns argumentaram que esse é só mais um esforço da Fundação para angariar novos investimentos com um conglomerado de instituições católicas da cidade de São Paulo. Outros dizem que é uma questão de economia, pois a faculdade estourou seu orçamento, e que novos feriados virão como o Dia das Sociedades Amigas de Bairro, Dia da Família e Dia do Silêncio. Existe um outro segmento que insiste que, na realidade, é uma questão de preservação do bem estar dos alunos, extasiados com a sobre-humana carga horária de estudos. Atento para o fato de que tentei selecionar apenas os comentários mais lúcidos a esse respeito.

Apesar de ser favorável ao feriado do Dia do Silêncio, pretendo encerrar todas essas especulações inoportunas. Pois bem. Todos sabem que Cásper Líbero foi um jornalista que, além do exercício da sua profissão, iniciou a formação da Fundação que leva seu nome. Porém, poucos sabem que o jornalista era um católico fervoroso e que, após sofrer um acidente que o fez perder os movimentos das pernas, tornou sua devoção ainda maior. Surpreendentemente, recuperou sua condição física normal devido a uma promessa feita em nome de Frei Galvão. A promessa consistia em fundar uma faculdade de jornalismo, a primeira da América Latina. Muito contente com o ocorrido, correu a São Silvestre na semana seguinte – na época, uma maratona voltada a jornalistas – conquistando um honroso segundo lugar, atrás de Roberto Marinho (curiosamente, a partir desse dia, a Rede Globo de Televisão iniciou sua rápida caminhada em direção à liderança nacional do setor de telecomunicações). Infelizmente, Cásper Líbero não pode cumprir sua promessa devido a um trágico acidente de avião em 1943, sendo que, no mesmo avião, estava presente o arcebispo Dom José Gaspar d’Afonseca e Silva. Alguns jornalistas e empresários, solidários ao desejo do criador do jornal A Gazeta, se encubaram de criar a faculdade, que acaba de completar 60 anos de história.

“Feito os esclarecimentos, sinto-me obrigado a agradecer ao excelentíssimo Herbert Quain, ao genial Pierre Menard e aos chefes de cada hexágono da Biblioteca de Babel. Que o Universo se mantenha infinito”.



Ricardo Berezin é estudante de
Jornalismo e escreve nesta
coluna às sextas-feiras.