E, vejam só, ainda não falei de música.

Por certo, é melhor assim. Falar muito estraga. Longe de mim estragar o que nos resta. O breve a seguir estará beirando o insuportável (espero não ultrapassar o tênue limite da inconveniência).

A música: Joan of Arc

O autor: Leonard Cohen.

O disco: Songs of Love and Hate

A música retrata o famoso episódio da morte de Joan d’Arc, uma das maiores heroínas francesas. Todos conhecem o ocorrido. Joan d’Arc liderou o primeiro exército nacionalista francês na Guerra dos Cem Anos, obteve poucas, mas relevantes, vitórias e contribuiu de forma decisiva para a idéia formada de pátria francesa. Mais tarde, capturada pelo inimigo, julgada como herege, queimada na fogueira. Morte de mártir.

Leonard Cohen transformou tal personagem enigmática em música, incluída num disco que percorre as duas extremidades dos sentimentos humanos: amor e ódio. A canção – não é necessário constatar em qual dos lados se encaixa – evidencia o momento do sacrifício a partir de uma narrativa surpreendente (pois gênio é quem me surpreende). A jovem Joan d’Arc, apenas dezenove anos, cansada de batalhas, despe-se de sua armadura, veste um vestido branco e torna-se noiva. O fogo, agente do sacrilégio, esfria suas chamas, abandona o sacrifício e inicia o casamento.

Aos convidados, a lembrança da noiva Joan d’Arc permaneceu. Seus gemidos de dor ainda ecoam, as feições sofríveis martelam, oponham-se ao olhar firme de glória e as cinzas de seu vestido. Um dos presentes evoca seu delírio: “Eu anseio por amor e luz, mas, meu D´us, por que tão cruel, por que tanto brilho?”.

Quanto a nós, bem, a nós a música.


(…)
E a boa lorena Joana,
Queimada em Ruão? Nossa Senhora!
Onde estão, Virgem soberana?
Mas onde estais, neves de outrora?

Príncipe, vede, o caso é urgente:
Onde estão elas, vede-o agora;
Que este refrão guardeis em mente:
Onde estão as neves de outrora?

François Villon
Tradução de Modesto de Abreu

 

Ricardo Berezin

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Acho que, com o tempo, você se cansa. Mas não é aquele cansaço que se sente depois de cinco anos de carnaval ou como depois de uma sessão de amor a dois (ou mais). Cansa de verdade.

Cansa de saber que, entra ano e sai ano, o preço de tudo sobe e o valor de tudo cai. Sofre só de pensar que, mesmo depois de ter dado o suor, o sangue e talvez “algo mais” pela carreira, ainda continua como no começo. Incerto e inseguro.

Sente uma angustia enorme só de pensar que já não se lembra nem mesmo de onde veio direito. Tente lembrar o nome de todos que estavam na sua classe no terceiro colegial… Não consegue, não é? E, se consegue, foi cansativo, com certeza.

Cansa-se de perceber que, tendo oito ou oitenta, a maior epifania que você teve sobre o sentido da vida nos últimos tempos foi lendo aquele livro do Paulo Coelho, que nega até a morte que leu.

É enfadonho perceber que o tempo traz muitas coisas, mas nada daquilo que nos prometeram.

Sabedoria e moderação? Curioso como os sábios são os mortos, que já não podem mais cometer erros, e como a moderação geralmente é associada a alguém prestes a morrer.

Experiência? Se Cristo andasse na Terra ainda hoje, daria conselhos, mas provavelmente os daria em uma zona de guerra (se decidisse ficar em terras conhecidas), ou em uma mansão em Hollywood vestindo uma camisa florida e cavanhaque pintado. O mais provável é que fosse de dentro de um asilo onde existiriam pessoas mais experientes em lhe trocar as fraldas geriátricas.

O que o tempo nos ensinou? O que ele nos ensina? O que há de valor nisso tudo?

Felizes aqueles que se sentem felizes em saber que, no amor e na guerra, vale tudo, inclusive matar o ex-cônjuge (ou atual) de ciúmes ou trucidar uma criança recém nascida por engano.

Sortudos são os que conseguem dar esmola a um mendigo, dizer “coitadinho” e ir embora pensando: “Graças a Deus que não sou eu”.

Incrível como o tempo parece tornar as coisas piores, mais graves, mais curtas ou longas demais. Mais incrível ainda é o que fazemos com esse tempo, essa sabedoria, essa moderação e essa experiência.

Incrível ainda estarmos vivos e termos esperança de continuar vivos por muito mais tempo.

“Se apegando ao desespero silencioso…” Pink Floyd – Time.

Vitor Tritto

Os fait-divers são notícias que, sem mistificações, transmitem a dimensão da tragicomédia que é a condição humana.

Já aliterar…

Aliterar é verbo. Tráfego transmite toda tônica intransigente tangente ao tráfico de transformações temáticas. Aliterar é sujeito. Narcisa, no naufrágio do nada, nega negligência da narcotização nauseante. Aliterar é pronome. Mande-me mais melenas, mexericas, mecenas mórbidas, mandou Madonna. Aliterar é advérbio. Patrick Panacéia padece profundamente pelas ampolas polifórmicas. Aliterar é adjetivo. Renan reles réptil não recusas reinar a relva roçada. Aliterar é conjunção. Ermitão errante existe entre ébrios errantes. Aliterar é preposição. Quimera quase quebra o queixo quando queixa. Aliterar é numeral. Careca conta cálice com cabeça cancerígena. Aliterar é artigo. O ovo holerite ordenha ovelhas ocas. Aliterar é advérbio. Barbosa de barba baba biscoito bento. Aliterar é interjeição. Extra! Entrou em escola e encarnou exu-capeta! Aliterar é substantivo. Caetano comeu cento e cinco camelos contra a corrente.

…aliterar é isso aí.

 

Chico Spagnolo

Aviões caíam, Renan se safava, petistas e tucanos se complicavam, CPMF era votada, cargos nas estatais eram distribuídos aos aliados, camelôs não trabalhavam, ossadas eram achadas na serra da Cantareira e entrevistas eram desmarcadas, enquanto as formiguinhas trabalhavam na floresta. Antecipando o longo e tenebroso inverno que se avizinhava (crise dos mercados, bolha imobiliária, terceiro mandato lulista, Renan no Senado…), as formiguinhas se preparavam, procurando alimento. Trabalhavam de forma incansável (como a França de Sarkô), de sol a sol.

Uma das formiguinhas, enquanto trabalhava, ouviu uma música. Parecia alguém cantando, nada muito belo, mas incomum naquele lugar. Percebeu que era a cigarra. O pequeno inseto não se preocupava com nada, apenas cantava. Parecia não se incomodar com inverno, comida, PCC, Iraque, Ideli Salvati, nada. Apenas a música. Nenhuma “Cavalgada das Valquírias”, mas pelo menos não era nada desprezível.

A formiguinha se aproximou e entabulou uma conversa com a Cigarra:

– Mas você vai ficar cantando, mesmo sem comida e com o inverno chegando? – perguntou.
– No final tudo dá certo, deixo a vida me levar… – respondeu a cigarra.

A formiguinha logo voltou ao trabalho. Ruminou um pouco, mas se perdeu no mar de pensamentos e obrigações a serem cumpridas. Logo que os estoques estavam prontos, as formigas retornaram à colônia para invernar. E o tempo passou…

Com a chegada da primavera, as formigas retornaram a sua rotina normal. Um belo dia, a formiguinha citada anteriormente, encontra-se com a cigarra. Viu que agora ela estava bem, parecia melhor que no ano anterior. Aproximou-se e começou a conversar:

– Nossa, como você está bem! Parece que nem passou pelo inverno. Como você fez sem comida?
– Bom, logo depois que você passou, fui descoberta por um produtor musical. Assinei contrato, gravei 2 CDs de ouro, apresentei um talk-show, comprei uma mansão e um Jaguar, fiz uma turnê pelas Américas e agora vou para Paris, farei shows pela França.

– Ah, vai pra Paris é?
– Sim, deseja algo de lá?

– Só uma coisinha… Se você encontrar o VIADO do La Fontaine, manda ele TOMAR NO MEIO DO CU!

 

Luiz Giaconi

Por que diabos criticam tanto o humor nacional? À exceção dos programas que infelizmente já não dão mais certo (zorras, praças, escolinhas e turmas), o resto é bem divertido. Casseta & Planeta Urgente, Pânico na TV e Rockgol são engraçados. Veja bem: engraçados.

O argumento de que as piadas se repetem é consistente. No entanto, o humorístico mexicano Chaves o destrói sem querer querendo. Há mais de duas décadas na telinha de Sílvio Santos, ele desbanca qualquer um que atravesse seu caminho. Que o diga Ana Maria Braga, derrotada por Dona Florinda em plena estréia global.

Oras, quem foi que disse que humor deve ser necessariamente político? Não que o humor político não deva existir. Muito pelo contrário. Mas esse papo de que no Brasil só existem vadios ignorantes já deu no saco. Depois de tanto falarem na política do pão e circo, padeiro e palhaço têm vergonha até de sair às ruas.

O povo, companheiros e companheiras, tem direito de se divertir. De dar risada ao ver humoristas se matando para fazer o Galvão Bueno mexer o esqueleto. Por mais retardado que seja. Pelo equilíbrio entre entretenimento e inteligência!

 

Tossiro Yamamoto

Frase proibida da semana (e de todas as outras): ‘Ninguém é idiota a ponto de…’

Ricardo Berezin

Não sou adepto dessas práticas de vídeos difamadores. Não consegui segurar. Minhas desculpas.

 

Murilo Machado

“Top Top Garcia X Bob Fields”

 

Luiz Giaconi

Blog do curso de Filosofia
Prof. Dimas Künsch

Grupo "Discurso do Método"
Alunos do primeiro ano de Jornalismo da Faculdade Cásper Líbero.